Casa Verde

quarta-feira, novembro 21, 2007

O Monstro de Massinha

Sabe aquele único dia em que sua tia do jardim de infância deixou você brincar com sua caixa de massinhas de modelar? E então você aproveita aquele momento para descarregar todas as aflições que o mundo moderno e a sociedade neoliberal impunham sobre sua alma ao longo de seus cinco anos de vida, trabalha sem cessar e consegue pela primeira vez seu momento catártico de artista recém-descoberto.

Você corre, grita, equilibra sua obra e tenta chamar a atenção de seu público.

- Olha, mãe! Olha! Olha o que eu fiz! Olha, olha! Olha, mãe! Mãe! Olha o que eu fiz!

Pois tem a certeza de que ele há de reconhecer o talento inato que existe dentro de você.

- Nossa, filho, que lindo!... Mas o que é isso?

E se sente realizado, pois vê que ele entendeu a intenção estética aplicada por trás daquele imenso esforço artístico.

- Um monstro de massinha!

Aquele amontoado disforme de cores descombinadas representa a perfeição, o auge de uma carreira iniciada ali, cinco minutos atrás.

- Ah...tá, era isso. Nossa, filho, que lindo!

E por que não seria? Afinal, seu monstro de massinha tinha a maior das qualidades necessárias para que essas considerações fossem feitas: foi feito por você mesmo!

Aquele instante durou até você perceber que suas acepções plásticas atendem a um público mais restrito que sua imaginação concebia, até ter visualizado que a sociedade em que vive ainda não está culturalmente evoluída para receber o impacto de sua arte. Persistiu até o momento em que sua obra foi decapitada pelo irmão mais novo.

Você cresce e seus monstros crescem junto com você. Os meus agora são feitos de concreto e vidro, demoram um pouco mais que os cinco minutos originais para serem concebidos, mas continuam disformes, no mesmo estilo daquela primeira fase artística.

Crescem os monstros e aumenta também o público para quem você deve correr, gritar e tentar chamar a atenção.

Meu monstro de massinha virou hoje um cenário para a televisão e o primeiro deles vai passar segunda-feira. Admito que dizer “fui eu que fiz” é hipérbole daquelas pra ser usada de exemplo em livro de gramática. Mas se fui eu que emendei dias a fio de um estágio a outro pra poder dar conta do projeto, passei horas desenhando no computador e andei debaixo de sol sem almoço pelo saara procurando material pra ter um orçamento do cenário, quem se importa com um pouquinho de exagero?

Assistam! Nem que seja pra dizer “ah... ta, era isso”.

“Zé do Brasil”

Segunda-feira, dia 26/11, às 23:30, no Canal Futura.

UP (26/11): No JB

UP (30/11): No Futura

e uma foto:

quinta-feira, novembro 15, 2007

O fogo foge do fogão fazendo o céu ficar azul.